Esgoto doméstico

Os resíduos humanos têm o potencial de veicular agentes patogênicos de diversas doenças, incluindo febre tifoide, paratifoides, diarréias infecciosas, amebíase, ancilostomíase, esquistossomose, teníase, ascaridíase, entre outras. Portanto, é essencial evitar seu contato com:

  • Indivíduos humanos;
  • Fontes de água potável;
  • Vetores (moscas, baratas);
  • Alimentos.

Observa-se que, devido à falta de medidas práticas de saneamento e educação sanitária, uma parte significativa da população tende a descartar os resíduos diretamente no solo, criando situações propícias para a transmissão de doenças. A solução recomendada é a construção de instalações sanitárias com sistema de esgoto conectado a uma rede pública, com destino adequado. No entanto, essa solução é impraticável em áreas rurais e, às vezes, difícil, principalmente por razões econômicas, em muitas comunidades urbanas e suburbanas. Nestes casos, são indicadas soluções individuais para cada domicílio.

3.1.1. Importância sanitária

Sob o ponto de vista sanitário, o destino adequado dos resíduos humanos visa principalmente controlar e prevenir doenças relacionadas a eles. As soluções a serem adotadas têm os seguintes objetivos:

  • Evitar a poluição do solo e das fontes de água;
  • Impedir o contato de vetores com as fezes;
  • Promover novos hábitos higiênicos na população;
  • Oferecer conforto e atender ao senso estético.

3.1.2. Importância econômica

A ocorrência de doenças, especialmente as infecciosas e parasitárias decorrentes da falta de condições adequadas para o descarte de resíduos, pode levar à inatividade humana ou reduzir sua capacidade de trabalho. Nesse sentido, são considerados os seguintes aspectos:

  • Aumento da expectativa de vida, pela redução da mortalidade devido à diminuição de casos de doenças;
  • Redução das despesas com tratamento de doenças evitáveis;
  • Diminuição do custo do tratamento da água de abastecimento, prevenindo a poluição dos mananciais;
  • Controle da poluição de praias e áreas de recreação para promover o turismo;
  • Preservação da fauna aquática, especialmente de criadouros de peixes.

3.2. Esgotos domésticos

3.2.1. Conceito

Esgoto doméstico é originado principalmente de residências, estabelecimentos comerciais, instituições ou qualquer edificação que possua banheiros, lavanderias e cozinhas, compreendendo água de banho, excretas, papel higiênico, restos de comida, sabão, detergentes e águas de lavagem.

3.2.2. Características dos excretas

As fezes humanas consistem em restos alimentares, compostos não transformados pela digestão, incluindo albuminas, gorduras, carboidratos e proteínas. Sais e diversos microorganismos também estão presentes. A urina elimina substâncias como ureia, resultante do metabolismo de compostos nitrogenados (proteínas).

As fezes e, principalmente, a urina contêm grande quantidade de água, além de matéria orgânica e inorgânica. Os microorganismos nas fezes são variados, destacando-se os coliformes, como Escherichia coli, Aerobacter aerogenes e Aerobacter cloacae.

3.2.3. Características dos esgotos

3.2.3.1. Características físicas

As principais características físicas dos esgotos domésticos incluem matéria sólida, temperatura, odor, cor, turbidez e variação de vazão.

  • Matéria sólida: Os esgotos contêm cerca de 99,9% de água e apenas 0,1% de sólidos. Esse percentual de sólidos é responsável por problemas de poluição, exigindo tratamento dos esgotos.
  • Temperatura: A temperatura dos esgotos é geralmente ligeiramente superior à das águas de abastecimento. A velocidade de decomposição do esgoto é proporcional ao aumento da temperatura.
  • Odor: Os odores típicos dos esgotos são causados pelos gases formados na decomposição. O odor de mofo, característico do esgoto fresco, é razoavelmente suportável, enquanto o odor de ovo podre, típico do esgoto antigo, é insuportável devido à presença de gás sulfídrico.
  • Cor e turbidez: A cor e a turbidez indicam imediatamente o estado de decomposição do esgoto. A tonalidade acinzentada com alguma turbidez é típica do esgoto fresco, enquanto a cor preta é típica do esgoto antigo.
  • Variação de vazão: A variação na vazão do efluente de um sistema de esgoto doméstico está relacionada aos hábitos dos habitantes. A vazão é calculada com base no consumo médio diário de água por indivíduo.
3.2.3.2. Características químicas

As principais características químicas dos esgotos domésticos incluem matéria orgânica e inorgânica.

  • Matéria orgânica: Cerca de 70% dos sólidos nos esgotos são de origem orgânica, compostos principalmente por carbono, hidrogênio e oxigênio, ocasionalmente com nitrogênio. Os grupos de substâncias orgânicas nos esgotos incluem proteínas, carboidratos, gorduras e óleos, ureia, sulfatos, fenóis, etc.
    • Proteínas: Principais constituintes de organismos animais, também presentes em plantas. A decomposição das proteínas produz nitrogênio, carbono, hidrogênio, oxigênio, fósforo, enxofre e ferro.
    • Carboidratos: Contêm carbono, hidrogênio e oxigênio, sendo destruídos pelas bactérias com produção de ácidos orgânicos.
    • Gorduras: Originam-se de fontes como manteiga, óleos vegetais e carne.
    • Sulfatos: Compostos orgânicos que formam espuma no corpo receptor ou na estação de tratamento de esgoto.
    • Fenóis: Compostos orgânicos originados de despejos industriais.
  • Matéria inorgânica: Composta principalmente por areia e substâncias minerais dissolvidas nos esgotos.
3.2.3.3. Características biológicas

As principais características biológicas dos esgotos domésticos incluem microorganismos presentes nas águas residuais e indicadores de poluição.

  • Microorganismos de águas residuais: Bactérias, fungos, protozoários, vírus e algas são encontrados nos esgotos. As bactérias são as mais importantes, responsáveis pela decomposição da matéria orgânica na natureza e em estações de tratamento.
  • Indicadores de poluição: Existem organismos cuja presença em corpos d’água indica alguma forma de poluição. Para indicar poluição de origem humana, os organismos do grupo coliforme são adotados como indicadores. As bactérias coliformes, presentes nas fezes humanas, são utilizadas como referência para medir a extensão da poluição.

3.2.4. Produção de esgoto em função da oferta de água

3.2.4.1. Pouca oferta de água

Nessas condições, a água utilizada para consumo é geralmente obtida em torneiras públicas ou fontes distantes, exigindo esforço físico significativo para o transporte até os domicílios. O esgoto produzido nessas condições consiste principalmente em excretas, podendo ser direcionado para fossas secas, estanques ou de fermentação.

3.2.4.2. Muita oferta de água

A presença abundante de água aumenta a produção de esgoto. Nessas condições, os esgotos produzidos requerem um destino mais adequado, considerando fatores como vazão, tipo de solo, nível do lençol freático, tipo de tratamento (primário, secundário ou terciário), etc.

3.2.5. Bactéria aeróbia e anaeróbia

O oxigênio é essencial para a sobrevivência de todos os seres vivos. Enquanto os organismos terrestres obtêm oxigênio da atmosfera, os organismos aquáticos dependem do oxigênio dissolvido na água. As bactérias, assim como outros seres vivos, também requerem oxigênio. As bactérias aeróbias utilizam o oxigênio livre na atmosfera ou dissolvido na água, enquanto as bactérias anaeróbias precisam desdobrar substâncias compostas para obtê-lo. Existem também as bactérias facultativas, capazes de viver com oxigênio livre ou combinado.

3.2.6. Demanda Bioquímica de Oxigênio (DBO)

A DBO é a medida mais utilizada para quantificar a quantidade de matéria orgânica presente no esgoto, representando a quantidade de oxigênio necessária para estabilizar bioquimicamente essa matéria com a colaboração de bactérias aeróbias. Quanto maior o grau de poluição orgânica, maior será a DBO. A DBO diminui gradualmente durante o processo aeróbio até se anular, quando a matéria orgânica estiver totalmente estabilizada. Normalmente, a 20°C e após 20 dias, é possível estabilizar 99,0% da matéria orgânica dissolvida ou em estado coloidal. Em geral, a DBO dos esgotos domésticos varia entre 100 mg/L e 300 mg/L, indicando a quantidade de oxigênio necessária para estabilizar bioquimicamente a matéria orgânica presente no esgoto.